Cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Universidade de São Paulo, conseguiram impedir a evolução do câncer de pâncreas pela primeira vez.
Eles identificaram uma proteína presente na maioria das pessoas que morreram com a doença e, assim, pensaram que poderiam usar um inibidor dessa proteína para interromper sua função destrutiva:
“Com isso, houve um índice maior de morte das células tumorais, o que evitou o crescimento e a migração da doença em ensaios in vitro, tornando-a menos maligna”, afirmou o coordenador da pesquisa, o professor João Agostinho Machado-Neto, do Laboratório de Biologia do Câncer e Antineoplásicos do Departamento de Farmacologia do ICB-USP.
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Agora, a descoberta, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), abre caminho para o desenvolvimento de uma nova terapia contra o câncer de pâncreas.
Como o estudo foi conduzido
Foi aí que eles identificaram que a maioria dos pacientes com câncer de pâncreas tinha alta quantidade da proteína ezrina, e morria de dois a cinco anos após o surgimento dos tumores.
“Obtivemos essa constatação após um longo trabalho de mineração de dados. Essa informação nos chamou a atenção para realizarmos testes com o composto, que é um inibidor da ezrina, já que se trata de um dos cânceres mais letais e que têm poucas opções terapêuticas”, contou o professor.
Os testes e resultados
A aplicação do composto foi feita em modelos que simulam os tumores da doença. Trata-se de linhagens celulares, aprovadas para uso comercial, que foram obtidas a partir de amostras doadas por pacientes e submetidas ao processo de imortalização.
O composto foi aplicado em três modelos celulares de câncer de pâncreas e se mostrou capaz de impedir a ativação da proteína.
Apesar das diferenças nos modelos experimentais, as células cancerosas testadas apresentaram resultados similares.
“Com o êxito nesses primeiros testes, estamos planejando avaliar os efeitos do composto e a expressão do seu alvo ainda in vitro, mas agora em células obtidas diretamente de pacientes com o tumor. Assim, teremos um resultado mais assertivo frente à diversidade de resultados que obtivemos”, afirma Machado-Neto.
Além do câncer de pâncreas
Claro que os cientistas aproveitaram a descoberta e estão estudando os benefícios desse possível tratamento para outros tipos de câncer, como do colo do útero (carcinoma cervical), câncer de cólon e leucemias.
Segundo Machado-Neto, em estudos anteriores com modelos animais, o inibidor obteve bons resultados em termos de farmacocinética (capacidade de chegar até o local de ação e permanecer dentro do organismo) e se mostrou pouco tóxico.
No entanto, ainda não há como desenvolver medicamentos a partir dele, porque o composto ainda não foi testado em seres humanos. Seu uso é restrito para pesquisa até o momento.
Caso seja eficaz também em seres humanos, a estratégia deverá ser importante nos estágios iniciais e intermediários do câncer de pâncreas, já que evitaria o agravamento da doença.
A pesquisa teve a participação dos alunos de doutorado: Jean Carlos Lipreri da Silva, que atuou na mineração dos dados, Keli Lima, Lívia Bassani Lins de Miranda e Bruna Oliveira de Almeida, que atuaram nos testes celulares e moleculares.
Também contou com a colaboração da aluna de graduação Maria Fernanda Lopes Carvalho, do curso de ciências biomédicas do ICB-USP, que participou da pesquisa como bolsista de iniciação científica e também atuou na mineração de dados do TCGA.
Fonte: Agência Fapesp

