Hoje doutor e cientista, ele vendia amendoim quando criança
Crédito: Divulgação

Hoje doutor e cientista, ele vendia amendoim quando criança

José Gilberto conseguiu superar a pobreza e a fome para se tornar professor universitário

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Muitas crianças vivem hoje, tanto no Brasil quanto em todo o mundo, em situação de miséria. De acordo com a Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP), uma pesquisa realizada pela Fundação Abrinq mostrou que 40% das crianças no Brasil vive com menos de meio salário mínimo, somando a renda de todos da casa. Há alguns anos, esse era o caso do hoje professor universitário José Gilberto, que vendia amendoim quando criança. 

Para ajudar a complementar a renda, acabam caindo no universo do trabalho infantil. Segundo a ONG Rede Peteca, “mais de 2,7 milhões de crianças e adolescentes, de 5 a 17 anos, estão em situação de trabalho no Brasil – no mundo, são 152 milhões estão no trabalho precoce”. É um número assustador, de proporção que não pode ser ignorada.

Para algumas pessoas, o trabalho dignifica, não importa a idade. Pois a realidade não é nada digna. Segundo a ONG citada, ele “prejudica a aprendizagem da criança, quando não a tira da escola e a torna vulnerável”. Isso inclui aspectos como “saúde, exposição à violência, assédio sexual, esforços físicos intensos, acidentes, entre outros”.

Porém, há casos em que o que parece inevitável se transforma em força para a mudança. Indo contra a tendência que levou todos os seus amigos, um garoto que vendia amendoim se destacou e conseguiu o que parecia impossível. Ele se formou, tornou-se professor e pesquisador influente, constituindo sua família baseada na educação.

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Conheça a história

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Crédito: Arquivo pessoal

Saiba como José Gilberto de Souza, o menino que vendia amendoim no semáforo, se tornou um renomado geógrafo. Hoje pesquisador e professor universitário para pós-graduação em diversas instituições, ele já passou por momentos terríveis em sua infância. Claro que entre eles estava o trabalho infantil, que afastou seus amigos da escola, porém ele resistiu.

Hoje, Souza tem não somente o tão suado diploma, mas também mestrado, doutorado e até pós-doutorado, realizado na Universidade de Salamanca, na Espanha. Ele foi também presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros entre os anos de 2016 a 2018. Além disso, tem uma linda família, com sua esposa e três filhas, duas já formadas em estatística e relações internacionais e outra cursando engenharia de alimentos.

Infância

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Crédito: Arquivo pessoal

Nem sempre foi assim, tudo certinho e perfeito. Já ao chegar ao mundo, quase não resiste, pois sua mãe não tinha muito o que comer e estava subnutrida, a mesma forma que ele nasceu. Muito abaixo do peso, foi dito que não sobreviveria e que teria déficits cognitivos. Porém ele sobreviveu e, aos sete anos, resistiu também a uma tuberculose.

Sua mãe era uma empregada doméstica, mas não conseguia trabalho, pois era desquitada – algo que na época era quase uma ameaça. Seu pai era um sapateiro cearense, de pele mulata e que, infelizmente, acabou perdendo para o alcoolismo.

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A mãe conseguiu poucos trabalhos como empregada doméstica, fazendo com que muitas vezes sua despensa ficasse vazia. Foi quando Souza, com apenas 8 anos, começou a vender amendoim no semáforo da Ponte Pênsil, entre São Vicente e Praia Grande, em São Paulo. Além disso, catava ferro velho para revender e levar dinheiro para casa.

Pedinte

Ele conta que todos os seus amigos da época se perderam, entre vendas e pedidos de doações de dinheiro. Era uma época em que não era comum que as crianças pedissem dinheiro nas ruas, mas seu amigo chegou em casa cheio de notas e o convenceu a ir junto. No dia seguinte, foram para as praias de Biquinha e Gonzaguinha, em São Vicente, onde o Brasil começou.

Chegando lá, ele sentiu que havia algo errado naquilo, como se sua dignidade fosse embora. Ele lembra de olhar para si mesmo, do alto, e dizer para si que não foi feito para isso. Dessa forma, voltou a vender amendoim e sucata até os dez anos. Conseguiu então um trabalho em uma fábrica de doces de banana, ganhando dez centavos de cruzeiros a cada 20 litros de bananas descascadas.

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Estudo

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Crédito: Arquivo pessoal

Ele ia todos os dias com as mãos manchadas de nódoa de banana para a escola, pois reconhecia a sua importância. Outra pessoa importante nessa jornada foi a sua mãe, que foi um exemplo de superação. Quando não estava fazendo faxina, ela estudava para um concurso de merendeira, então era certo vê-la estudando todas as noites. Ela conseguiu o trabalho, mas sua atitude foi o maior presente que ela deu a Souza.

Sua mãe sempre dizia que ele tinha que estudar, sendo essa a única alternativa para ele, já que era franzino e não podia ser um pedreiro ou outro profissional que requeira força. Souza viu sua mãe, de manhãzinha, atravessando uma enxurrada com dois filhos no colo, para que eles pudessem estudar. Ela também lia muito para os filhos. O livro favorito: “Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro Vasconcelos.

Universidade

Se você acha que, depois de passar por diversas escolas públicas, foi fácil chegar e concluir a universidade, se engana. Além de estudar durante o ensino médio, Souza trabalhava à noite, para ajudar a sustentar a casa. Porém, em 1987, entrou na universidade pública, formando-se geógrafo em 1991. Para conseguir se alimentar, fazia muitos bicos, como digitar trabalhos para os professores.

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Souza lembra de uma história de quando estava na universidade, caminhando na Praça da Sé, com um professor. Eles olhavam os meninos que estavam catando papelão para revender e o professor disse: “Gilberto, essa universidade só vai melhorar quando esses meninos chegarem a ela”. E Souza disse que era um deles. Em suas palavras: “eu sou aqueles meninos e a universidade não melhorou. Eu juntei ferro velho e estou aqui”.

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