Perder um filho é sempre algo delicado e doloroso, mas o que dizer daqueles que nem tiveram a chance de nascer? Pensando nisso, canadenses transformaram jardim em cemitério para essas pequenas almas e suas famílias.
A dor da perda de um filho é similar, esteja ele adulto, criança ou até mesmo ainda no ventre. A sensação é inestimável. Porém, enquanto muitos podem sofrer o luto, algumas famílias ficam desamparadas. É o caso dos bebês que nem chegaram a nascer, falecendo no útero de suas mães.
Algumas vezes a morte do bebê ocorre de forma espontânea, sem que a mãe possa evitar, mesmo que faça de tudo para mantê-lo em seu ventre. Outras vezes, ela nem imaginava que ele estava lá, esperando o momento da sua chegada. Há casos também em que a mãe, seja por qual motivo for, se vê obrigada a interromper a gravidez.
Não se engane, a dor é a mesma. O sofrimento de ver uma vida interrompida e não poder passar pelo processo de luto, é uma dor ainda maior. Pensando nisso, arquitetos canadenses criaram o jardim das pequenas almas (Little Spirits Garden). Conheça mais sobre esse local de cura e paz.
Conheça a história do jardim
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Em Victória, no distrito de Britsh Columbia, no Canadá, uma iniciativa está tornando a vida de muitas famílias mais completa. No seio do Royal Oak Burial Park, se encontra um delicado memorial para os pequenos que não puderam ter a chance de nascer. De acordo com o site, lá é “um lugar para lembrar das almas mais doces“.
Criado em 2010, o Jardim das Pequenas Almas é um memorial onde as famílias podem criar um espaço de recordação. Primeiro, passam por uma entrevista, quando conversam sobre o que aconteceu e recebem uma delicada casinha branca, produzida especialmente para o jardim. Ela é a representação singela de uma lápide, que a família pode decorar como quiser ou deixar como está.
Eles escolhem um dos locais demarcados para tal e lá colocam a casinha do bebê que se foi, sendo um local para oração e respeito. O processo é gratuito e o local é aberto para visitação durante todo o ano. Um lugar tranquilo, cercado de uma natureza exuberante, muito bem cuidado e com uma área especial para espalhar as cinzas, se a família tiver. Se não tiver nada, também está tudo certo.
Esse memorial fica dentro de um cemitério, em um parque. No ano de 2008, ele iniciou o processo de enterros verdes, nos quais se depositam as cinzas dos entes queridos, nutrindo as árvores e flores locais. Não são permitidas lápides, como em um cemitério comum, somente a vegetação tratada sem nenhuma química e com manejo natural. Têm-se um memorial em granito, com os nomes daqueles cujas cinzas foram depositadas.
Porém, não são somente as casinhas que funcionam como memorial. Há também as “pedras comemorativas e bandeiras simples de memória de cedro que ficam penduradas nas árvores. O jardim também oferece tábuas de pedra natural com placas de bronze para pais e famílias para colocar um pergaminho em memória”.
A inspiração para a criação desse pequeno jardim foi o Templo Zojoji, em Shiba, no Japão. Os arquitetos e paisagistas Bill Pechet e Joseph Daly se encantaram com o local e decidiram reproduzir no Canadá. Em Zojoji, as famílias que tinham perdido seus bebês, recebiam pequenas estátuas, simbolizando seus filhos.
Tornou-se um local de oração e paz, levando conforto àqueles que perderam seus filhos muito cedo. Conheça mais um pouco desse local de memória e acolhimento, no vídeo abaixo.
Como superar um aborto
De acordo com o Little Spirits Garden, “a perda de um bebê em qualquer momento da gravidez, no nascimento ou nos meses que se seguem ao parto pode ser uma experiência especialmente isolada para os pais e sua família. Isso ocorre porque muitas pessoas não entendem prontamente a profundidade do vínculo existente ou sabem como apoiar a família enlutada“.
Esse é um fato verdadeiro, sendo essa lacuna preenchida por comentários insensíveis como: “Já passou, agora é fazer outro”. “Não era para ser, se acalme e espere pelo próximo”, entre outros. Não há má vontade, porém pedir para esquecer a dor da perda não ajuda de fato. Isso vale para as que sofreram aborto espontâneo ou para as que tiveram que abortar.
Então, como superar um aborto? O correto é viver as etapas do luto, como se faz com qualquer outra vida perdida. É um erro imaginar que é uma dor menor ou menos importante do que outras, pois é não somente um feto, mas uma perspectiva inteira de vida, que fica para trás. A desconstrução da expectativa e a separação do seu filho, formado por seu corpo, gera muita dor.
O luto é importante para que a família possa processar o que aconteceu ao invés de empurrar para o inconsciente. A cura vem do trabalho no processo de luto, apoiado sempre pelos amigos e familiares. Veja quais são os passos:
- Negação: nessa fase, a família tenta reprimir os sentimentos, talvez seguindo os conselhos populares de levanta, sacode a poeira, etc.
- Raiva: em seguida, vem a raiva de si, dos outros, das situações, da vida, de Deus. A pessoa fica extremamente irritadiça e explodindo por qualquer coisa.
- Negociação: quando surgem os argumentos consigo mesmo, buscando aliviar a dor da perda. Por exemplo “foi melhor assim” ou “foi da vontade de Deus”.
- Depressão: essa é a fase em que a dor bate com mais força, podendo inclusive derrubar a pessoa. Ela tem que sofrer, sentir, chorar e não negar. Esse é o caminho da cura.
- Aceitação: Depois do sofrimento, vem a aceitação do ocorrido. Aceitação não é esquecimento, e sim o conformar-se com o que aconteceu, honrando a memória do que se foi.
Essas fases não tem uma duração específica, sendo únicas de pessoa para pessoa. Porém, se ela ficar presa em alguma delas por muito tempo, vale a pena buscar o apoio de um psicólogo, para dar os próximos passos em direção à paz. Veja mais sobre o luto por um filho, principalmente da ótica da mãe.