Ex-faxineira
Imagens: Reprodução

Ex-faxineira criou ONG e melhorou a vida de mais de 3 mil crianças

Desde criança, mesmo trabalhando na faxina, ela arrumava um tempinho para praticar a leitura, e nunca abandonou esse gosto.

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Neuza Nascimento tinha 11 anos quando saiu de Santos Dumont, em Minas Gerais, para morar no Rio de Janeiro com a mãe. Ainda criança ela foi trabalhar como faxineira, mas, Neuza escreveu uma trajetória diferente da realidade que vivia. Hoje, a ex-faxineira é escritora e já mudou a vida de muitas pessoas para melhor.

Enquanto trabalhava na faxina das casas, a jovem foi descobrindo o gosto pela literatura. Começou com histórias em quadrinhos que lia escondida no banheiro, depois foi conhecendo a obra de autores como Freud, Marx e Simone de Beauvoir, mesmo sem ainda entender o que diziam.

Foi assim que Neuza começou a escrever cartas românticas, juntando seus conhecimentos com o dom natural para a escrita. Nessa época ela já morava na Parada de Lucas (RJ), onde teve um filho que passou a criar sozinha quando o marido foi embora. Mas, esta mulher de fibra nunca se deixou abater pelos desafios da vida.

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A ideia da ONG

Um dia, conta Neuza que seu filho, com 11 anos, queria ir a um baile da favela. Então, ela foi com ele para saber do que se tratava.

“Fui até lá e não gostei do que vi, não era um ambiente para crianças. Ali comecei a entender que eu precisava oferecer a eles uma opção de cultura e lazer”, lembra Neuza, sobre a ideia que deu origem ao Centro Integrado de Apoio às Crianças e Adolescentes da Comunidade (CIACAC), ONG que ela dirigiu entre 2000 e 2015 e teve um impacto positivo na vida de 3 mil pessoas.

Ex-faxineira e estudante de jornalismo

Após trabalhar 46 anos como empregada doméstica, hoje, aos 62, Neuza é ex-faxineira e cursa o 3º período de jornalismo na Estácio.

Além disso, ela assina reportagens para a Coluna da Neuza no site Lupa do Bem. Seu maior objetivo agora é publicar o livro “De Saracuruna a Copacabana”, com 16 contos escritos desde 2003, muitos deles dentro do trem, à noite, enquanto voltava das faxinas cansativas pelos bairros da Zona Sul carioca.

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A maior parte dos textos começou a tomar forma quando Neuza ganhou uma bolsa de estudos para escritores, em 2004, e escolheu renunciar a algumas faxinas para poder participar das aulas em uma escola no Flamengo.

“Uma das tarefas era levar os contos dos outros participantes para casa para criticar. Um dia eu tomei coragem e critiquei um texto que não tinha verossimilhança —essa palavra eu aprendi nas oficinas e nunca vou esquecer. Ali eu comecei a entender o que era uma crítica e fui melhorando minha escrita, porque a gente passa a prestar atenção. Ao final do curso eu já tinha produzido oito contos e recebi do professor o comentário: ‘Imprima-se com louvor’.”

Uma mulher premiada e reconhecida na comunidade

Convidada a participar de um projeto social chamado “Mulheres em Ação”, que premia e conta a história de mulheres de destaque na comunidade, Neuza e outras companheiras trouxeram luz sobre o que mais as emocionou ao longo dos anos realizando trabalho social.

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Como diretora da ONG em Parada de Lucas —o único projeto social nascido dentro da comunidade, para as pessoas de lá—, Neuza teve a oportunidade de realizar mais de 300 passeios para conhecer lugares como o Centro Cultural Banco do Brasil e o Piscinão de Ramos com as crianças da comunidade.

Por volta de 2008 ela criou uma oficina de cidadania para os jovens atendidos pela ONG e começou a receber voluntários estrangeiros. “Eles ficavam em Copacabana e iam trabalhar uma vez por semana”, conta.

“Depois fechei uma parceria com uma instituição espanhola e passei a receber voluntários sempre, que davam aulas de capoeira, informática, espanhol, basquete. Com o tempo montei um esquema de manual para os voluntários, mas a favela era perigosa e eu mesma acabei me mudando de lá”.

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Diante da história escrita à base de tanta luta, a ex-faxineira diz se identificar mais como liderança do que como articuladora.

“Aprendi que liderança não é quem comanda, e sim, quem está à frente abrindo o caminho para os outros virem”.

Fonte: Trechos da matéria de Lígia Nogueira para Ecoa

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