Neuza Nascimento tinha 11 anos quando saiu de Santos Dumont, em Minas Gerais, para morar no Rio de Janeiro com a mãe. Ainda criança ela foi trabalhar como faxineira, mas, Neuza escreveu uma trajetória diferente da realidade que vivia. Hoje, a ex-faxineira é escritora e já mudou a vida de muitas pessoas para melhor.
Enquanto trabalhava na faxina das casas, a jovem foi descobrindo o gosto pela literatura. Começou com histórias em quadrinhos que lia escondida no banheiro, depois foi conhecendo a obra de autores como Freud, Marx e Simone de Beauvoir, mesmo sem ainda entender o que diziam.
Foi assim que Neuza começou a escrever cartas românticas, juntando seus conhecimentos com o dom natural para a escrita. Nessa época ela já morava na Parada de Lucas (RJ), onde teve um filho que passou a criar sozinha quando o marido foi embora. Mas, esta mulher de fibra nunca se deixou abater pelos desafios da vida.
Veja também: A trajetória de Chris Garden: uma história de superação que virou filme
A ideia da ONG
Um dia, conta Neuza que seu filho, com 11 anos, queria ir a um baile da favela. Então, ela foi com ele para saber do que se tratava.
Ex-faxineira e estudante de jornalismo
Após trabalhar 46 anos como empregada doméstica, hoje, aos 62, Neuza é ex-faxineira e cursa o 3º período de jornalismo na Estácio.
Além disso, ela assina reportagens para a Coluna da Neuza no site Lupa do Bem. Seu maior objetivo agora é publicar o livro “De Saracuruna a Copacabana”, com 16 contos escritos desde 2003, muitos deles dentro do trem, à noite, enquanto voltava das faxinas cansativas pelos bairros da Zona Sul carioca.
“Uma das tarefas era levar os contos dos outros participantes para casa para criticar. Um dia eu tomei coragem e critiquei um texto que não tinha verossimilhança —essa palavra eu aprendi nas oficinas e nunca vou esquecer. Ali eu comecei a entender o que era uma crítica e fui melhorando minha escrita, porque a gente passa a prestar atenção. Ao final do curso eu já tinha produzido oito contos e recebi do professor o comentário: ‘Imprima-se com louvor’.”
Uma mulher premiada e reconhecida na comunidade
Como diretora da ONG em Parada de Lucas —o único projeto social nascido dentro da comunidade, para as pessoas de lá—, Neuza teve a oportunidade de realizar mais de 300 passeios para conhecer lugares como o Centro Cultural Banco do Brasil e o Piscinão de Ramos com as crianças da comunidade.
Por volta de 2008 ela criou uma oficina de cidadania para os jovens atendidos pela ONG e começou a receber voluntários estrangeiros. “Eles ficavam em Copacabana e iam trabalhar uma vez por semana”, conta.
Diante da história escrita à base de tanta luta, a ex-faxineira diz se identificar mais como liderança do que como articuladora.
“Aprendi que liderança não é quem comanda, e sim, quem está à frente abrindo o caminho para os outros virem”.

