Apesar de todos os aspectos negativos, as fases de crise de uma sociedade são, também, oportunidades para inovar nos negócios, que é uma necessidade principalmente para os pequenos comerciantes. Um bom exemplo é do agricultor Hélio Tavares, de 36 anos, que trabalha e vive em Paty dos Alferes, região serrana do Rio de Janeiro.
Durante a pandemia, que obrigou pequenos agricultores a deixarem de montar as feiras livres para evitar a aglomeração de pessoas e evitar que todos ficassem tocando nos produtos, Hélio encontrou uma forma de manter e até aumentar as vendas dos seus produtos orgânicos, além de ajudar na venda dos vizinhos que também produzem. A solução é o delivery. O trabalho é puxado, mas vale a pena.
Hélio sai de casa pelas 3 horas da manhã para chegar por volta das 6 horas na capital, e lá fica até as 15 horas, entregando as sacolas retornáveis de nylon que comportam de 3 a 5 quilos de alimentos orgânicos.
“A maior parte dos alimentos que distribuo é daqui de casa. O que eu não tenho, levo dos amigos e viabilizo também para os que não têm condição de transporte. A gente se organizou nesse sentido”, contou Hélio em entrevista para o G1.
O mesmo aconteceu com Lucas Moya, que é membro de um grupo de distribuidores de produtos orgânicos em Brasília.
No caso da produtora Inês Scarpa Carneiro, 69 anos, de Cosmópolis, em São Paulo, as vendas diminuíram em 80%. Então, o filho dela passou a entregar os produtos de porta em porta.
“Quem assumiu (as vendas) foi meu filho e ele está fazendo entregas de cestas. Está nos ajudando muito. Meus amigos que são grandes produtores foram muito prejudicados, com muitas sobras, e estão doando – o que não é nosso caso”, explicou Inês.
Alguns produtores estão voltando a trabalhar nas feiras, seguindo todas as recomendações de segurança, e em alguns dias da semana continuam com as entregas domiciliares, como é o caso da agricultora Ana Rita, de São Sebastião da Bela Vista, Minas Gerais. Ela faz feiras às quartas e sábados, e faz entregas à domicílio em Varginha, às quintas.
“As vendas não diminuíram. Na verdade, houve aumento na procura por nossos produtos. Estamos produzindo mais. Na feira todos tomam muito cuidado. Distanciamento, máscaras. Preferimos pagamento por cartão, para evitar dinheiro vivo, e muito álcool 70% à disposição de todos”, conta Ana.
Uma transição necessária
Os produtores e distribuidores que já estavam habituados com a rotina das feiras encontraram mais facilidade para se adaptar ao delivery, bem como aqueles que abasteciam as escolas, que também fecharam.
Os consumidores e uma nova prioridade
As pessoas estão cada vez mais querendo consumir vegetais orgânicos, preocupadas em manter a boa saúde e a qualidade de vida. Apesar de muitas pessoas terem vontade, mas não poderem investir em produtos orgânicos por causa do preço elevado, algumas coisas mudaram.
As pesquisas realizadas confirmam que, mesmo antes da pandemia, muitas pessoas já estavam migrando para o consumo de vegetais orgânicos, sempre que possível. Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), realizado antes da pandemia e publicado em fevereiro de 2020, mostrou que, de 2010 a 2018, o setor evoluiu cerca de 17% quanto ao número de produtores especializados no alimento orgânico.
Além disso, dados da Organis (associação sem fins lucrativos que trabalha para divulgar os conceitos e as práticas orgânicas), informam que o setor de produtos orgânicos faturou R$ 4,6 bilhões no Brasil em 2019, o que foi 15% acima do ano anterior.
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