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O que conta uma mulher que hoje faz sucesso com suas histórias no mundo do crime

Nem sempre a vida de crimes é resultado da pobreza e da falta de oportunidades

Crédito: Arquivo pessoal

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Karolliny Campos Ferreira sempre teve uma vida confortável, filha de uma diretora de escola e um dono de marcenaria que nunca lhe deixaram faltar nada. Mas, ela era uma adolescente muito rebelde e não queria saber de andar na linha.

Quando estava com 15 anos, Karol engravidou pela primeira vez, e sua filha foi viver com a família paterna. Ela não se sentiu tocada pela maternidade, e apenas seguiu levando uma vida sem regras.

Em 2015, Karolliny começou a se envolver ainda mais com drogas, as más influências se aproximavam cada vez mais, e ela gostava da ideia de pegar uma arma e sair pela cidade roubando as pessoas. Sob efeito das drogas, os assaltos eram pura adrenalina na rotina da jovem.

Em fevereiro de 2016, Karol já estava acostumada a se drogar, acordar com ressaca e se recuperar saindo para roubar. Essa era a sua vida, e foi isso que ela fez de novo. Ela acordou em uma tarde qualquer e perguntou a um amigo se ele topava sair para roubar umas lojas.

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O esquema era simples: eles subiam na moto, e quando encontravam uma mulher na rua, ou um estabelecimento que parecia fácil de roubar, Karol descia da moto com sua arma em punho e anunciava o assalto. Enquanto isso, o amigo ficava na moto esperando ela voltar para saírem às pressas.

Karol conta que nunca teve a intenção de matar nem machucar ninguém. A arma servia só para assustar e deixar sua adrenalina nas alturas. De fato, ela nunca feriu uma pessoa fisicamente.

A primeira prisão

Crédito: Arquivo pessoal

Naquela tarde de fevereiro de 2016, Karol e o amigo rodaram toda a cidade, em Araguaína, Tocantins, de moto. Eles assaltaram de 10 a 15 pessoas, na rua e no comércio. Como já eram acostumados a fazer isso, a dupla pensou que daria tudo certo de novo e eles voltariam para casa se sentindo ótimos com o “grande feito”.

Mas, não foi o que aconteceu. As pessoas da cidade começaram a ligar para a polícia, e Karol e seu comparsa foram presos em flagrante. Foi sua primeira prisão.

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Antes disso, Karol já tinha passagem na polícia por estar envolvida em um esquema de fraudes no seguro desemprego. Ela recebia o dinheiro em nome de terceiros e lucrava com isso. Por conta desse esquema, a Polícia Federal invadiu sua casa e levou todos os seus pertences. Sem dinheiro, foi aí que ela começou a assaltar.

Na época Karol estava com 20 anos, mas seu envolvimento com drogas tinha começado aos 14 anos. A sociedade se perguntava o que levava aquela menina de família de classe média a ter um comportamento tão problemático, sendo que nada lhe faltava.

“O fato de eu ser uma mulher jovem, bonita e cometer assaltos chocou a minha cidade, que tem cerca de 200 mil habitantes. Cheguei a ser manchete de um programa policial e fiquei conhecida como musa do crime”.

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De acordo com a própria Karol, não havia problemas em casa nem qualquer justificativa para o seu comportamento. Não foram más influências, pois tudo o que ela experimentou e cometeu foi por vontade própria. Ela apenas se sentia muito rebelde e acredita, hoje, que precisou viver tantos erros para aprender a viver do jeito certo.

O primeiro passo rumo à mudança

Aquela primeira vez que Karol foi presa não serviu de aprendizado. Por conta de um programa do governo que tinha como base a justiça restaurativa, a jovem ficou apenas um mês na prisão. Depois ela recebeu orientações sobre como deveria se comportar e assinou termos se comprometendo a melhorar e não cometer mais delitos.

Porém, foi só sentir o gosto da liberdade, que nenhuma das promessas foi cumprida. A vida de Karol ficou ainda pior, com mais drogas e mais assaltos. Mesmo estando em prisão domiciliar, a jovem não se conteve.

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Então, depois de três meses, vendo que ela não tinha capacidade de assumir os compromissos que tinha concordado para ficar em prisão domiciliar, a justiça determinou sua prisão preventiva, ficando na cadeia até o seu julgamento.

Quando o julgamento aconteceu, Karol foi sentenciada a 9 anos e 9 meses de prisão por assalto à mão armada e estelionato. Ao perceber que passaria tantos anos de sua juventude na prisão, Karol ficou ainda mais revoltada. Arrumava muitas confusões e organizava contrabandos de drogas e celulares dentro da cadeia. Foram 6 transferências de presídio para tentar conter essa menina problemática.

O arrependimento

Depois de tantas transferências e se sentir como realmente funciona a rotina dentro de uma prisão, Karol começou a refletir sobre a vida que estava levando. Ela percebeu que todas as suas atitudes estavam lhe trazendo muitos problemas. Então, seu comportamento começou a mudar.

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“Me lembro de ligar para a minha mãe chorando com um dos celulares ilegais que tinha conseguido e implorar para que ela desse um jeito de me tirar dali. Em uma dessas ocasiões, ela me deu uma resposta da qual eu nunca vou esquecer: me disse que, pela primeira vez na vida, conseguia dormir bem, porque sabia que eu estava em segurança”.

Com o passar do tempo, e sem poder usar as drogas como antes, Karol foi tendo uma nova perspectiva sobre a própria vida, com tempo de sobra para refletir sobre seus atos do passado. Ela mal acreditava que tinha mesmo cometido tantos delitos sob o efeito das drogas.

Foi então que ela aceitou a realidade: não quis mais saber de se drogar e entendeu que precisava cumprir sua pena para recomeçar a vida. Ela estava arrependida de tudo.

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O caminho da recuperação

Depois de passar dois anos em regime fechado, Karol recebeu uma tornozeleira eletrônica para ficar em prisão domiciliar. Ao voltar para casa ela percebeu que seu mundo havia mudado.

As pessoas do seu antigo círculo não se importavam mais com ela, apenas sua família a ajudou a se recuperar. Nessa fase, se não estivesse realmente arrependida e decidida a mudar, poderia ter voltado aos delitos.

Mesmo com medo de botar o pé para fora de casa, Karol tentou arrumar um emprego. Mas, todas as pessoas tinham medo dela. Quando entrava em uma loja, as pessoas escondiam seus pertences. Nas empresas, jamais aceitariam uma ex-estelionatária.

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Sem poder arrumar um emprego no comércio local, Karol fez um curso de marketing digital e passou a ganhar algum dinheiro recomendando esse curso para outras pessoas. Foi nessa época que ela conheceu seu atual marido, que também já tinha passagem pela prisão. Juntos, eles decidiram mudar de vida.

Uma nova jornada

Crédito: Arquivo pessoal

Karol e seu marido tentaram alugar um imóvel para viverem juntos, mas nenhum inquilino confiava neles. Então, eles sabiam que precisavam juntar dinheiro para construir o próprio lar. Karol abriu uma loja de roupas online e começou a guardar dinheiro. Ela e o marido foram sorteados no consórcio de uma moto, então venderam a moto para dar entrada em uma casa.

No começo, a loja online de Karol não estava indo bem porque as pessoas da cidade não queriam comprar nada dela, tinham medo de dar o endereço. Então, ela deixou de usar a sua cidade como referência de contato da loja e passou a oferecer os produtos para outras cidades, eliminando o preconceito das pessoas.

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Mas, foi só quando ela resolveu começar a fazer vídeos no TikTok para contar sobre a sua rotina na prisão, que as coisas começaram a mudar para melhor de verdade. Apesar do medo da reação das pessoas, Karol descobriu muita gente compreensiva que lhe enviava mensagens de apoio.

Seus vídeos se tornaram virais, e ela entendeu que falar sobre o seu passado estava abrindo portas. Hoje, Karol vive com o marido na casa própria que eles conquistaram. Ela teve mais uma filha, as vendas de sua loja aumentaram e agora ela é CEO da sua própria empresa, determinada a impulsionar seu crescimento de vida.

Reprodução de entrevista concedida ao Universa

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