Há 30 anos, Elizandra Sila de Moura parou o ensino médio e não voltou mais a estudar. Ao menos até 2020, quando resolveu retomar os estudos para fazer vestibular e apoiar a filha, Eloisa Elena Silva de Moura Lima, de 18 anos.
“Parei o ensino médio com 16 anos, então ela [Eloisa] se dedicou em mostrar os pontos chaves, em como fazer o melhor em uma boa redação. Tinha muito tempo longe da escola e, pra falar a verdade, não tinha nenhuma esperança, mesmo tendo o sonho de voltar a estudar”, disse Elizandra, em entrevista ao G1.
Eloisa é autista e está na idade de prestar vestibular. Ela já tinha deixado passar uma oportunidade em 2019 e tinha certa insegurança, pois ouvia muitas pessoas dizerem que autistas não têm espaço no mercado de trabalho.
“Eu sempre ouvi da boca das pessoas e criei pensamentos errados na minha cabeça. Diziam que autista não entra no mercado de trabalho. Na época da escola, este era o meu estereótipo. Estava realmente desgastada nessa época, só que ainda assim tinham pessoas que acreditavam em mim, como minha família e professores”, relembrou a jovem.
Então, a mãe, Elizandra, reuniu duas vontades: realizar o sonho de se graduar e ajudar a filha nos estudos para que entrasse na universidade também. Juntas, elas passaram o ano todo de 2020 estudando, trocando ideias e fazendo simulados.
Em janeiro de 2021 as duas fizeram a prova para ingressarem na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O resultado saiu no início de março, e Eloisa não quis nem esperar amanhecer. Às 3 horas da madrugada ela foi conferir a lista de aprovados e não poderia ter ficado mais feliz. Ela passou em 4º lugar para Farmácia, enquanto sua mãe passou em 2º lugar para Geografia, ambas com excelentes notas na redação.
“Eu tive oportunidades de prestar vestibular em outros lugares, mas sempre quis a UFMS porque moro perto. Peguei o edital e foquei no que mais tinha dificuldade. Minha mãe, que é uma mulher batalhadora e que sempre correu atrás dos seus objetivos, queria retomar os estudos. Nós então nos dedicamos e agora vamos entrar juntas na faculdade”, afirmou Eloisa.
No dia seguinte elas fizeram a pré-matrícula e começaram as aulas no dia 11 de março. O sonho que parecia distante para a duas, agora é realidade e comemorado junto com o pai, que é caminhoneiro, e o irmão mais velho, que já se graduou. O orgulho é grande, e Eloisa afirma que apenas ajudou a mãe, mas que o mérito é todo dela.
“Minha mãe sempre foi a minha maior inspiração. Ela largou os estudos para nos cuidar e por isso a incentivei tanto. Quando saiu o resultado, falei pra ela: eu só te ajudei, isso tudo é o seu esforço. Considero tudo isso uma vitória e, quando falei da minha história, veio muitas mulheres e pessoas me pedir ajuda na redação. Vou fazer isso com o maior prazer, porque acho que educação é algo que todos devem ter acesso”, finalizou.
