Influencer conta como conseguiu se aceitar com bolsa de colostomia
Crédito: Instagram @lorenaeltzz

Influencer conta como conseguiu se aceitar com bolsa de colostomia

Depois de 8 anos se escondendo por causa da bolsa, a jovem finalmente decidiu viver livre

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Em um depoimento para a Glamour Brasil em 2020, a influencer Lorena Eltz contou como foi a sua trajetória desde os 5 anos de idade, quando foi diagnosticada com Doença de Crohn, até aos 20 anos, quando finalmente resolveu compartilhar sua realidade com as pessoas e oferecer apoio a quem passa por condições semelhantes.

“Me chamo Lorena Eltz, tenho 20 anos e sou taurina. Trabalho produzindo conteúdo na internet sobre saúde mental e física, escrevendo e estudando bastante sobre o assunto. 

Fui diagnosticada com Doença de Crohn com apenas cinco anos. Desde que nasci já apresentava muitos sintomas, mas o processo de descobrir o que eu tinha demorou bastante, por isso, só com essa idade, comecei o tratamento. 

Em 2012, eu estava com uma crise bem forte da doença e precisei fazer uma cirurgia. Não fiquei com medo porque o foco sempre foi ficar bem e com saúde. Se fosse um caminho para alcançar esta meta, estaria disposta. No primeiro momento, o médico disse que seria apenas a operação, nada da bolsa de colostomia. Eu imaginava que existia essa possibilidade, só que não pensava muito sobre. 

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Quando eu descobri mesmo foi quando acordei da cirurgia e coloquei a mão na barriga: a bolsa estava lá. O pós-operatório de uma cirurgia no intestino é bem doloroso. Fisicamente, fiquei bem desgastada, existem muitos cuidados. Passei vários dias sem levantar da cama ou comer, pois a cicatriz é muito grande e meu inestético precisava cicatrizar antes de voltar a funcionar.

Nos primeiros dias que comecei a sentar, comer e caminhar, lembro de ainda achar estranho aquele ‘saco plástico’ na minha bexiga. Não parecia parte de mim. Não sabia limpar, mexer ou dormir com ela. Tinha medo de tocar ou me machucar.

Emocionalmente, os primeiros momentos foram de adaptações e entendimento do porquê aquilo era necessário. Foi aí que passei a pesquisar sobre o assunto, encontrar mais informações sobre a bolsa de colostomia, como usar, quem usava, etc… só que não encontrava nada. No máximo, alguns conteúdos gringos ou vídeos de médicos explicando a cirurgia, mas nada da rotina da pessoa ostomizada. Até então, a bolsa ainda era uma alternativa, pois o médico dizia que chegaria o momento de tirar.

Vivi por muito tempo com a esperança de tirar a bolsa, até que aconteceu mais uma cirurgia. Entendi que a usaria pelo resto da vida. Passei oito anos sem contar a quase ninguém que usava a bolsa. Só contei agora quando postei as primeiras fotos do meu verdadeiro corpo no Instagram durante a pandemia.

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Tive muitas dificuldades em aceitar e conseguir entender que meu corpo era assim, com cicatrizes e a bolsa. Como eu vivi muito tempo com a esperança de retirá-la, eu não comentava com as pessoas sobre como tinha sido a cirurgia ou sobre ela. Escondia com roupas compridas, largas, evitava contatos físicos e também negava muitos convites para ir à praia ou coisas do tipo. Vivia me escondendo.

As únicas pessoas que sabiam eram minha família e as pessoas que eu havia me relacionado. E eu contei por obrigação mesmo, não me sentia à vontade. Ao longo dos oito anos, fui reprimindo os sentimentos em relação a minha vida. Me sentia uma farsa. Não conseguia dar 100% de mim. Ficava frustrada ao descobrir que não era somente eu que me escondia. Conheci algumas pessoas que também usavam bolsas e não mostravam na internet. Passei a me aborrecer cada vez mais ao não ver mulheres ostomizadas no Instagram, aproveitando o verão ou de lingerie. Tudo isso foi bastante decisivo para eu postar as fotos. 

Decidi postar, de repente, para quebrar as barreiras de uma vez. Me deu um frio na barriga, eu postei e sai correndo. Demorei para ter coragem de ler os primeiros comentários… Uma chuva de pessoas que me seguiam e também tinham bolsas apareceram e nunca tinham falado sobre isso. Recebi muito apoio das minhas amigas também. Percebi que nossa relação melhorou bastante por eu estar me libertando. Mas não foi fácil, viu?! Tive muito medo de postar, achava que ninguém mais falaria comigo ou que parariam de me seguir. Achava que seria um hate imenso. Percebi o bem danado que aquilo ia me fazer. Percebi também que as pessoas tinham dúvidas e passei a fazer vídeos. É um verdadeiro processo de aceitação que estou vivendo e compartilhando em tempo real. Cada dia que passava, me sentia mais à vontade para levantar a blusa e tirar mais fotos, de ângulos diferentes. Não achava que conseguiria postar imagens de biquíni, por exemplo, e cá estou eu comprando vários biquínis para dar close no Instagram. 

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O que mais me ajudou foi a liberdade do meu pensamento que dizia que eu era sozinha. Me senti sozinha nesses oito anos e isso mudou bastante. Todos me conhecem por quem eu sou, conhecem minha história e se identificam com ela. É legal saber que, pelo menos, as pessoas vão realizar a cirurgia terão alguém para conversar. Isso teria feito uma grande diferente para mim, aos 12 anos. Estou feliz por poder cumprir esse papel no futuro. 

Aprendi bastante após a postagem. Comecei a me abrir mais para a diversidade de corpos e pessoas que existem. É enriquecedor ler as histórias que recebo no Instagram e poder me abrir para conversar sobre coisas que eu nunca tinha falado, nos últimos oito anos.”

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