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Crédito: Arquivo pessoal

Grávida de gêmeos perdeu um dos filhos com 32 semanas e seguiu com a gestação

O falecimento de um dos gêmeos aconteceu por causa da síndrome de transfusão feto-fetal

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A gravidez de Ana Carolina Garcia, de 23 anos, foi uma grande surpresa. Ela tinha acabado de terminar o namoro com Henrique, em outubro de 2018, e não tinha a menor ideia de que já estava grávida.

Nas semanas seguintes ela teve episódios de vômitos, mas como estava passando por alguns problemas pessoais e profissionais, achou que fosse por causa do nervosismo. A menstruação já era desregulada, mas só para tirar a dúvida ela fez um teste: deu negativo.

O corpo de Ana Carolina continuou enviando sinais. Ela sentia mal estar, inchaço na região da barriga e prisão de ventre. Então, como já tinha feito o teste de gravidez, que deu negativo, ela foi ao hospital pensando que estivesse doente.

Chegando lá, o médico pediu alguns exames, incluindo um ultrassom. Quando foi realizar esse exame, a ultrassonografista solucionou o caso, e disse: “São os meninos que estão pressionando o seu intestino”, sem saber que a mamãe não sabia da gestação.

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“Tive uma crise de riso e choro. Senti um misto de felicidade e choque quando a médica me disse que eu estava grávida de 26 para 27 semanas.”

Crédito: Arquivo pessoal

Quando saiu do hospital, Ana foi com a mãe comprar as primeiras peças do enxoval dos gêmeos. No caminho ela ligou para o ex-namorado e disse que precisavam conversar. Pelo tom de voz dela ele desconfiou do assunto, e acertou em cheio.

Logo no dia seguinte Ana começou o pré-natal no posto de saúde. Recebeu todas as orientações do médico, começou a tomar vitaminas e o médico a encaminhou para um pré-natal de alto risco.

Levou mais um mês para que ela conseguisse agendar todos os exames pelo SUS, entre ultrassom e de sangue. Nesse tempo a barriga cresceu bastante, e ela foi montando o quartinho e comprando tudo o que era necessário para a chegada dos bebês.

No dia 14 de maio, quando Ana estava com 31 semanas, ela fez o segundo ultrassom. Nesse exame a médica disse que os gêmeos eram univitelinos, mas em bolsas diferentes e já estavam na posição cefálica. Parecia estar tudo bem.

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Então, enquanto estava indo para casa, Ana enviou uma foto do ultrassom para sua tia que é médica e mora na Bolívia. Pela foto ela conseguiu perceber que havia uma diferença no peso e no tamanho dos dois bebês. Enrico tinha 600 gramas e 1 centímetro a menos do que Bennício. A tia orientou que Ana perguntasse ao obstetra sobre essa diferença.

Enrico estava recebendo menos sangue do que Bennício

Crédito: Arquivo pessoal

No dia seguinte Ana foi se consultar com o obstetra do pré-natal de alto risco e ele verificou as diferenças entre os bebês. Ele informou à Ana que poderiam ser duas coisas: uma delas é que Enrico era apenas mais magro do que Bennício. A outra é que eles poderia ter a síndrome de transfusão feto-fetal.

Nessa síndrome, um bebê recebe menos sangue do que o outro por conta de uma má distribuição dos vasos sanguíneos da placenta.

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Se a síndrome fosse confirmada, Ana teria que receber uma injeção de corticoide e agendar uma cesárea. Então ela agendou um ultrassom com doppler para a semana seguinte, a fim de confirmar se era mesmo essa síndrome, e foi para casa tranquila.

“Quatro dias depois, o Enrico morreu dentro da minha barriga.”

Crédito: Arquivo pessoal

No dia 19 de maio Ana estava se sentindo bem, inclusive foi para um churrasco na casa de uma tia. Até umas 13h ela sentiu os bebês mexendo normalmente. Mas lá pelas 15h ela sentiu que tinha algo errado. Mesmo passando a mão na barriga e estimulando os bebês, eles não se mexiam.

Ana sabia que Bennício estava do seu lado direito e Enrico do lado esquerdo. Quando chegou em casa, sentiu Bennício se mexer, mas nenhum sinal de Enrico. Então ela ligou para a tia médica da Bolívia, que recomendou que Ana fosse para o hospital. Ela tinha um mau pressentimento de que Enrico não estava mais ali.

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“Desabei, um buraco se abriu na minha frente. Fiquei em choque, não conseguia acreditar naquilo.”

Crédito: Arquivo pessoal

De fato, o seu pressentimento de mãe estava certo. Ela chegou desesperada ao hospital, já dizendo na recepção que precisava ser atendida, pois achava que seu bebê estava morto.

Quando foi levada para o ultrassom, apenas o coraçãozinho do Bennício estava batendo. Foram 3 médicos que repetiram o mesmo exame para ter certeza, e todos ouviram apenas Bennício. A terceira médica foi quem confirmou:

“Seu bebê morreu, o outro está bem, nós vamos cuidar dele e de você. Vou te dar um tempo e depois vou voltar para te dar orientações.”

Crédito: Arquivo pessoal

Ana tomou uma injeção de corticoide e ficou internada. Ela conversou com a mãe, e decidiu ligar para o padrasto, pedindo para que ele e o irmão dela retirassem de casa tudo que lembrasse de gêmeos. Naquele momento, Ana pensou que o melhor a fazer era transformar sua realidade em ter apenas um filho.

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Quando chegasse em casa, queria ver só um berço, só um carrinho, tudo para um bebê. Ela ficou bloqueada, e nem mesmo conseguia tocar a barriga e conversar com o filho que ainda estava vivo.

No hospital, os médicos disseram que o parto não precisaria ocorrer já. Ana poderia continuar sua gestação, pois ainda faltavam algumas semanas, mesmo estando com um dos gêmeos morto em seu ventre, pois não aconteceria nada de mau.

Ao fazer o ultrassom com doppler, foi confirmado que a morte de Enrico foi causada pela síndrome de transfusão feto-fetal. Então, Ana foi para casa e tentou lidar com as três semanas seguintes antes do parto.

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Ela cancelou o chá de bebê, mas um amigo fotógrafo a convenceu de fazer um ensaio em homenagem a Enrico, e ela aceitou.

“Nesse dia eu senti como se eu estivesse o libertando e aceitei a perda dele. Depois do ensaio, voltei a me reconectar com o Bennício.”

Crédito: Arquivo pessoal

Hoje, Ana agradece pelo apoio e pelos registros, pois na época não estava com cabeça nem para falar sobre o filho falecido.

O parto

Crédito: Arquivo pessoal

Finalmente, no dia 10 de junho, a bolsa de rompeu e as primeiras contrações começaram no caminho para o hospital. Ana se preparou durante aquele noite inteira e, na madrugada seguinte, dia 11 de junho, às 01h07 da manhã, Bennício nasceu.

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Alguns minutos depois, Enrico também nasceu, mas Ana não teve coragem de olhar para ele. Ela preferia ter a imagem dele vivo em sua barriga do que morto em seus braços.

No dia seguinte, a família de Henrique, pai dos bebês, organizou o velório e o enterro de Enrico. Hoje Ana diz se arrepender de não ter olhado para o filho, mesmo que sem vida, para dizer o que amava. Mas com a presença de Bennício, ela conseguiu seguir em frente, sem cair em depressão.

Voltaram a ser uma família

Crédito: Arquivo pessoal

Após um mês do nascimento, Ana e Henrique reataram o namoro e ficaram noivos. Bennício passou a ser o centro da vida do casal, e eles sempre dizem que têm dois filhos, pois nunca vão deixar a memória de Enrico morrer.

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Crédito: UOL VivaBem

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