Bebê faz transplante de coração inédito
Crédito: Hospital Gregorio Marañón

Bebê faz transplante de coração inédito: o tipo sanguíneo não era igual

A única forma de curar o problema congênito no coraçãozinho da bebê era conseguir um coração doador tão pequeno quanto o dela

Publicidade

Médicos do Hospital Gregorio Marañón, em Madri, na Espanha, realizaram a segunda cirurgia no mundo de transplante de coração em um bebê, vindo de um doador incompatível, e foi um sucesso.

A pequena Naiara, de apenas 2 meses, nasceu com um tipo de cardiopatia congênita – que surge nas primeiras 8 semanas de gestação, quando se forma o coração do bebê.

Crédito: Hospital Gregorio Marañón

“Vimos que o coração da bebê não estava bem e ficava cada vez pior – de modo que não foi possível chegar ao final da gravidez”, disse a médica Manuela Camino, chefe da unidade de transplante de coração infantil do hospital.

O problema foi detectado nos exames mensais durante a gravidez, e por conta disso o parto de Naiara foi prematuro, de 34 semanas. A equipe que fez o parto achou que Naiara não fosse sobreviver, pois seu coração estava muito fraco. Mas estavam enganados.

Publicidade

Além disso, conforme o organismo da bebê foi amadurecendo, os médicos viram que seria possível colocá-la na fila de transplante. Mas alertaram os pais sobre a dificuldade de encontrar um coração tão pequeno para ela.

“Propomos à família, aos pais, e dissemos, vejam, é muito pouco provável que encontremos um coração doador tão pequeno para a sua bebê”, relatou a médica.

Crédito: Hospital Gregorio Marañón

Mas as boas vibrações da família trouxeram um coração para Naiara, que veio de um bebê de outro hospital. A pequena estava com 2 meses e pesando 3,2 quilos no dia da cirurgia.

“E a oportunidade chegou. O dia em que chegou seu coraçãozinho. E aí foi tudo uma alegria. Foi uma experiência nova para nós, porque era um bebê que tinha o menor peso para receber um coração, e, além disso, a bebê tinha piorado muito 24 horas antes. Se um coração não chegasse, possivelmente não estaria aqui [hoje]”, contou a médica.

Publicidade

O transplante inédito

Até pouco tempo não era possível realizar transplantes complexos como esse em bebês, devido ao risco e a necessidade de encontrar doadores compatíveis. Mas a medicina está sempre evoluindo.

Crédito: Hospital Gregorio Marañón

O caso de Naiara foi inédito porque, além de receber o transplante de outro bebê que tinha um tipo sanguíneo incompatível com o dela, o coração do doador já estava parado e teve que ser reanimado antes de ser removido e preparado para doação.

Conforme explicou o médico Juan Jaurena, ao jornal espanhol “El País”, “a diferença entre o transplante de Naiara e outros transplantes cardíacos é que, num transplante convencional, quando há morte encefálica, o cirurgião encontra o doador com o coração batendo. Daí, faz o órgão parar, retira do doador, coloca em gelo e o leva embora. Quando o coração já está parado, ele tem que ser, primeiro, reanimado – e só então retirado do doador.”

Publicidade

Para realizar esse procedimento delicado, foi necessário usar um método de circulação extracorpórea em que o sangue passa a circular fora do corpo, em uma máquina. Quando o sangue chega, então, ao coração da pessoa, ele volta a bater por si próprio.

Crédito: Hospital Gregorio Marañón

Esse procedimento só é possível com a presença de um profissional específico: o perfusionista. “O trabalho do perfusionista, em qualquer cirurgia cardíaca, é substituir a função do coração e dos pulmões durante o processo da cirurgia. Nós somos o coração e o pulmão da criança durante a cirurgia cardíaca“, explicou o perfusionista José Ángel Zamorano, do Gregorio Marañón.

A equipe que operou Naiara foi ao hospital em que estava o coração do doador para realizar a reanimação. Depois, o coração foi retirado do doador e conservado em isquemia fria, sem fornecimento de oxigênio e em baixa temperatura para ser transportado até o hospital onde Naiara estava.

Publicidade
Crédito: Hospital Gregorio Marañón

Assim que o coração doado foi transplantado na bebê, precisou ser reanimado de novo. “Aqui, a magia se redobra: por um lado, em recuperar um coração parado, para que volte a bater, e, depois, quando volta a bater definitivamente, já dentro do peito do receptor. Após a inserção, o coração começou a bater forte e estável”, relatou o médico.

A cirurgia foi um sucesso. Naiara passou algumas semanas na UTI e depois foi transferida para a enfermaria. A gratidão dos pais da bebê foi em dobro: à equipe médica que realizou um trabalho perfeito e à família do doador que, em meio a um momento de dor e luto, teve esse gesto tão generoso que permitiu salvar a vida de Naiara.

PODE GOSTAR TAMBÉM